quinta-feira, 18 de julho de 2013

A saga de uma família da região agreste para o alto sertão paraibano. A história de Mestre Chagas do Distrito de Quixaba - Uiraúna – PB

MESTRE CHAGAS

A seca, além de ser um problema climático, é uma situação que gera dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região nordeste. A seca destrói a vida e a dignidade do sertanejo. Por causa da seca muitos sertanejos migraram para a cidade grande em busca de sobrevivência e de qualidade de vida melhor. O personagem Chico Bento de “O Quinze”, da escritora Raquel de Queiroz largou tudo em busca da sobrevivência deixando seu torrão natal, como também Fabiano, de “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, que pega a família e parte sem destino definido, em busca de algo que lhe garanta a sua sobrevivência e a de sua família.

O paraibano Francisco Chagas de Morais (Mestre Chagas) como era carinhosamente chamado fez o caminho inverso. Fugiu da seca e depois voltou para a terra natal mesmo sabendo das adversidades. Francisco Chagas de Morais (Mestre Chagas) foi residir em Fagundes cidade localizada no Planalto da Borborema na Serra do Bodopitá, no agreste paraibano e que foi palco do movimento popular da Paraíba e da região nordeste a "Revolta do Quebra-Quilos", entre fins de 1874 e meados de 1875. D. NINOSA AVO DE EDMILSON

A tentativa de implantação do novo sistema métrico no país provocou revolta em diversos lugares. No estado da Paraíba, por exemplo, onde tudo começou, João Vieira, o João Carga d'Água, liderou os revoltosos que invadiram o povoado de Fagundes em Campina Grande num dia de feira, quebraram as "medidas" (caixas de madeira de um e cinco litros de capacidade), fornecidas pelo poder público municipal e usadas pelos feirantes, e atiraram os pesos dentro do Açude Velho.

Na cidade de Fagundes, Francisco Chagas de Morais (Mestre Chagas) conheceu a jovem Ninosa com a qual se casou e dessa união nasceram oito filhos Dioclécio (Deó), Manoel (Manú), José (Zuca), Ramalho, Maria das Neves “in memoriam”, Alaíde, Antônio (Totonho) e Clóvis. São netos do casal Francisco Chagas de Morais (Mestre Chagas) e D. Ninosa, o engenheiro civil, proprietário da empresa Madeireira Planalto estabelecida em Mossoró – RN, empresário Francisco Edmilson de Sousa e o magnífico reitor da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), professor doutor em Eletrônica e Comunicações pela UNICAMP, Antonio Heronaldo de Sousa.

Quando o sertanejo deixa o sertão, não esquece seu lugar e sempre quer voltar, mesmo levando um saco como malota e o cadeado sendo um nó. Como expressou Euclides da Cunha em sua obra “Os Sertões”: “ O sertanejo é antes de tudo um forte”. Quando o sertanejo está longe e sabe que chove na sua terra ele volta rapidinho para o seu aconchego. Certa vez um sertanejo residente em São Paulo ao ser indagado se tinha esquecido a terra natal ele respondeu de pronto: “O bolso está em São Paulo, mas o coração está no sertão”.

Foi o que fez o migrante Francisco Chagas de Morais (Mestre Chagas). Nunca esqueceu o seu torrão natal, exaltando-o quando tinha oportunidade. Com a saudade dilacerando o coração, em 1938 voltou do agreste para o alto sertão paraibano, mais precisamente para o Distrito de Quixaba, município de Uiraúna – PB. O Distrito de Quixaba foi criado pela lei nº 4.537 de 14 de dezembro de 1981. Está situado a 220 metros de altitude da sede de Uiraúna. Dos mais antigos habitantes, ascendentes da geração atual, ressaltam-se os nomes de Frei Herculano, Tenente Josa, José Adelino de Queiroga e Hermínio Vieira das Chagas.

Mestre Chagas trouxe consigo a esposa D. Ninosa, os sogros Sr. Biu e D. Cadinha e vários cunhados. Mestre Chagas foi um cabra valente, corajoso, audacioso, destemido e um líder nato por trazer todo esse povo para uma região de seca. Mestre Chagas nasceu em 16.08.1911 e faleceu em 13.01.1989 aos 77 anos. A casa onde ele viveu ainda existe no Distrito de Quixaba e lá reside o Sr. Láercio e família.

Mestre Chagas era polivalente, um autodidata e um mestre por excelência. Foi mestre de obras, carpinteiro, funileiro, armeiro e mecânico. Encanava braço, amansava burro brabo e castrava jumento. Mestre Chagas foi uma das reservas morais da região, exemplo de pai de família, exímio profissional, um ser humano fantástico, com caráter irrefutável, uma pessoa carismática e um cidadão atencioso para com todos. Dia 05 de julho de 2013 a esposa de Mestre Chagas D. Ninosa completaria 100 anos. O empresário Francisco Edmilson de Sousa, neto de D. Ninosa lembra com carinho da avó querida, das suas risadas, da sua inteligência, do seu bom-humor, das brincadeiras, do arroz com açafrão, das festas de Natal e do café amargo.

Abdias Duque de Abrantes

Jornalista DRT PB 604

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